Pedal última sexta-feira do mês. Tema central desta edição é o descarte do lixo.
Fotos @by.doug
Mediador @voirrealoficial
bem me quer…
mal me quer…
Bem me quer…
mal me quer….
(Pra onde a gente vai hoje? )
Pra beirada da rua, pra beirar a cidade,
sem eira nem beira, apesar da vaidade:
Cidade,
varre o que não cabe pra cima, pros lados, pro canto da calçada.
mal me quer,
assim não te quero tão(m) bem
me batel a saudade
De dia, vitrine que brilha.
De noite, o desfile do lixo.
sacos pretos – bem acondicionados
sacolas brancas – todas penduradas
latões, caçambas e bombonas
nelas se fuçam
enquanto eles não vêm
bem me quer
montão de sacola, é o sacolão,
embolada
saco que embala: doce. ácida cidade.
bem me quer
bem me sobra, sempre, em alguma lixeira
caçamba, em frente à casa
tantos outros acham comida
mal te querem
queriam que não te sobrassem
mas não conseguiram comer tudo do prato
(grito – Pra onde vocé vai, recicletada?)
mal me quer
Que saco! Que segredo é esse que teu lixo não quer mostrar?
Pra onde você quer me levar?
Se a mão firme do coletor segura essas tantas sacolas. Se o passo certeiro da sua botina, correndo a rua da noite escura sem um vacilo se quer, não me levar…
com essa tanta determinação que não vejo em lugar…
bem me quer
(Pra onde?)
Agarrou a barra do caminhão basculante.
Adicional noturno, periculosidade nenhuma
traz o que merece.
Sua pisada, seu pulso,
firme, é de valor.
E ele vai levar…
mal me quer
(pra onde vai isso aqui?)
vai pra vala do já era
da mesa foi pro saco,
do saco foi pra rua,
da rua vai pro aterro
mal me quer e vê se me erra
quem tem trambolho é rei
é cego, não vê que enterra
Quanto tempo durou:
caixa, peça, parte,
pente, taça, pote,
graça, pão e sorte.
Lata, prato, tampa —
e tanto que virou tralha.
bem me quer
de resto pra rejeito
não tem jeito, meu rei,
não tem sujeito, minha rainha,
que traga um troço, produto ou objeto
que deixe de comer nascentes e gerar montanhas de lixo.
mal me quer,
bem me quer,
por falar nisso
você já viu uma bicicleta numa cesta de lixo?
